25 agosto 2006

Soneto de Felicidade



De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa (me) dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes

02 agosto 2006

O centenário do 14-Bis

Conhecido como o pai da Aviação Santos Dumont nasceu no dia 20 de julho de 1873, na fazenda de Cabangu, perto de Palmira, hoje Santos Dumont, em Minas Gerais. Faleceu aos 59 anos e durante os anos em vida conseguiu deixar a sua trajetória marcada pela sua experiência em vôos mirabolantes, persistência e por ter acreditado em seus sonhos.
Desde criança mostrou-se muito dedicado a área de mecânica. Enquanto adolescente inspirava-se nas obras de Júlio Verne, os quais com suas arrojadas previsões sobre o progresso da ciência, lhe causaram impressão profunda. Seu pai de ascendência francesa, Henrique Dumont, engenheiro e próspero fazendeiro de café, viajou com a família para Europa no intuito do seu filho Santos Dumont estudar física, química, mecânica e eletricidade em Paris, na esperança de ser o lugar ideal para que ele desenvolvesse suas aptidões.
Dotado de inteligência ímpar, sempre progredindo nos seus conhecimentos e experiências de mecânica, Dumont dedicou-se inicialmente ao automobilismo, mas não demorou em seguir a carreira de aeronáutica, concentrando-se o seu objetivo na conquista do ar. Nesse período dois pensamentos o dominaram: o balão pode ser dirigido e o motor tem que ser forte e leve. Teve grandes experiências ao manifestar interesse pela construção de balões, chegou a fazer trinta ascensões em balões alugados, enfrentando dificuldades e perigos para aprender o que precisava. Mostrando astúcia e perspicácia, fabricou com operários contratados, um balão usando pela primeira vez, seda japonesa envernizada, e em singela homenagem à sua pátria mãe, o batizou de “Brasil”. O balãozinho tinha um volume de apenas 113 m3 , quando a média era de 500 a 3.000 m3 , e, com suas pequenas proporções, que criavam um problema aparentemente insolúvel de manutenção da estabilidade. No entanto, foi considerado um notório feito em técnica. O “Brasil” foi pilotado pela primeira vez em 04 de Julho de 1898, no Jardim Aclimação, em Paris.
Nessa mesma época Santos Dumont, decidiu testar a utilização de um motor a gasolina em aeróstatos, o que representaria um grande passo para solucionar o problema da sua dirigibilidade. Surgiu então o seu segundo balão, “A Música”, um pouco maior que o anterior e subiu mais alto. O terceiro balão criado era bem arrojado, semelhante a um charuto, possuía leme e hélice, sendo chamado de “Santos Dumont n°1”. Pesando 30 kg, com 25 m de comprimento, 3,5m de diâmetro e volume de 180m3, o balão era impulsionado por um motor de 3,5 HP, a gasolina. Seria a primeira vez que se aplicava motor a um balão, coisa que até então inimaginável. O fato de ter rasgado ao subir, não ofuscou o brilho do momento em que, Santos Dumont, rodeado de centenas de pessoas, alcançou o ar imbuído pelo impulso de uma salva de aplausos.
As experiências de Dumont ficaram conhecidas no mundo inteiro. Cada nova invenção que realizava, era numerada e aperfeiçoada uma a uma, sempre na intenção de conseguir chegar a aeronave que demorasse mais tempo no ar.
Com o “n° 5” tentou ganhar o prêmio Deutsch no valor de cem mil francos, precisando, para isso, alcançar o feito de realizar com seu invento uma volta em torno da Torre Eifel. Na ocasião, devido a um escapamento de gás, foi de encontro a umas pedras e isso quase lhe custou a vida. Entretanto isso não intimidou, disputando novamente o prêmio Deutsch com o “n°6”. A nova máquina de 32 metros de comprimento por 6 metros de diâmetro, realizou a subida na presença de inúmeras pessoas, em 1901. Durante mais de uma hora manobrou com facilidade, dando-se apenas, na decida um pequeno acidente. Todos acharam que o prêmio estava ganho. Essa porém, não foi a opinião do júri, o que deu motivo a inúmeros artigos apaixonados nos jornais. O caso foi resolvido pelo próprio Deutsch, que entregou os cem mil francos a Santos Dumont. Este, demonstrando que possuía além de uma enorme criatividade também um senso enorme de generosidade, distribuiu o valor ganho entre os operários e os pobres.
As últimas experiências foi com o “14-Bis”, que o fez ganhar no dia 23 de outubro de 1906, a taça Archdeacon e um prêmio em dinheiro no valor de três mil francos. Com o “14 Bis” Santos Dumont conseguiu chegar a 100 metros distantes do solo. A população gritou entusiasmada, acenando com as mãos e os lenços, pois sabiam que Santos Dumont havia conquistado o céu e as alturas, num aparelho mais pesado que o ar.
Cansado de lutar tantos anos, voltou ao Brasil, onde fixou sua residência, tendo antes feito uma série de viagens pela Europa e América. Porém, o grande dissabor do Pai da Aviação foi ter visto o seu invento empregado como arma destruidora na Primeira Grande Guerra Mundial.
Muitos anos se passaram e com a evolução da tecnologia e os primeiros passos de Santos Dumont, o homem também criou asas e armas bem mais pesadas que o ar, conseguindo destruir vidas, quebrar esperanças e redimir sonhos. No entanto, a despeito do uso indevido e irracional do seu invento, sua experiência serve de exemplo para demonstrar que, para aqueles que conseguem enxergar além do que lhe é mostrado no horizonte, nem o céu é o limite.
Tatiane da Hora